Para alguma extrema-esquerda, só o povo poderá julgar Lula da Silva. Joana Mortágua escreveu a "crónica de um julgamento político", Francisco Louçã denuncia que "as elites brasileiras, escravocratas e gananciosas, não admitem a intromissão de movimentos ou protagonistas populares (...)" e, do alto da sua cátedra revolucionária, Boaventura Sousa Santos levantou a voz para apoucar a intervenção da justiça brasileira - por acaso sujeita ao princípio da legalidade, dentro de limites constitucionais - que diz representar a "reação" das velhas "forças conservadoras e do imperialismo norte-americano".
Depois de assinar em Roma um documento que prevê listas transnacionais para o Parlamento Europeu, António Costa clarificou que afinal não as defende. Simultaneamente, em Bruxelas, Pedro Silva Pereira - que em 2011 já negociara a intervenção externa da troika - foi um dos 17 eurodeputados que aprovaram na comissão AFCO a proposta de criação destas listas, em prejuízo de Portugal.
O melhor que federalistas conseguem dizer, num chavão feito de quase nada - porque nem sequer densificam o conceito - a propósito da atual crise do projeto europeu, é "mais Europa". Basicamente, não aprendem com os próprios erros e dão como solução para os problemas mais do que lhes deu causa. Convencem-se que o Brexit reflete uma espécie de exotismo na personalidade dos britânicos, que a ascensão dos partidos de extrema-esquerda e extrema-direita com vocação totalitária acontece por ignorância dos eleitores, que a fragilidade nas respostas à crise de refugiados e fluxos migratórios resulta do egoísmo básico de estados e que as crises financeiras são só consequências da irresponsabilidade de alguns países. Puros erros, que na verdade denunciam um certo défice de lideranças europeias.